segunda-feira, 23 de abril de 2007

A Senhora Rubra




Sim, eu lembro. Aquela senhora usava vestido vermelho e dizia ser a mãe de todo o desencanto. Encontrei-a certo dia no meio de uma embriaguez agridoce. Vestia um véu violeta e cantava para um cadáver. Ela sabia dos caminhos que perdi. Ela sabia que eu não mais queria voltar. Ela me convidou para ver o mar, e o mar estava borbulhando.
Sempre acreditei mais nas suas mentiras do que no bom senso dos sábios. Conheço minha escolha, e eu escolho a distância de um deserto profundo onde o amor não alcança.

Sete chances eu tive para voltar, mas deixei que eles se divertissem sem mim. Não há mais em mim a benevolência de outrora, quando acariciava-lhes e afagava suas mãos. Eu os abandonei na própria sorte das madrugadas. Não faço mais parte deles. Eu me perdi.

Segui os olhos daquela antiga senhora, ela me envenenava. No entanto, eu conhecia todos os venenos que ela me oferecia dissimulados em suas carícias. Eu não me importei. Nem quando, na floresta escura, com tochas nas mãos, procuravam por mim, gritavam meu nome, e eu não os respondi. A rubra Senhora cobriu-me com seu manto de silêncio.

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